Adaptações cinematográficas de livros estão entre os maiores desafios do cinema. Afinal, como gerar um produto audiovisual de uma obra que já existente sem afetar negativamente os leitores dela? Imagine a dificuldade em reportar no formato de vídeo os relatos bíblicos transformando descrições de ambientes em cenários, versículos em diálogos, livros em atos e capítulos em plots.
Desde o início do cinema francês e da consolidação do cinema norte-americano na década de 1940, as produtoras de distribuição internacional viram na Bíblia uma oportunidade de roteirizar longas-metragens que pudessem trazer as telonas histórias conhecidas do público – que tivessem potencial para alavancar bilheterias de futuras grandes produções. Um detalhe: os blockbusters ainda não existiam.
Na primeira metade da década de 1910, chegava aos cinemas o filme – para alguns cinéfilos, somente apresentação visual – ‘Fotodrama da Criação’ (1914) que transitava seu storyline pela criação do mundo – descrita em Gênesis – até o fim dos tempos – explicado em Apocalipse. Com quase oito horas de duração, o recurso de imagens fixas e sincronizadas foi visto por mais de oito milhões de pessoas – no primeiro ano de exibição.
Depois do fim dos fotogramas, os longas em live action tomaram conta do cinema e todo o processo de criação foi modificado. Era necessário escolher uma direção de arte – que comandasse toda a parte de figurino, fotografia e maquiagem -, um elenco e separar o roteiro, dividindo os atos.
Mas, quais são as melhores adaptações de histórias bíblicas para o cinema – se é que é possível escolhê-las? Confira 5 filmes em que os acontecimentos da Bíblia foram levados as telonas de maneira surreal.
1. ‘Os Dez Mandamentos’ (1956)
Se existe um longa que descreve em tela a história de Moisés de maneira fidedigna é a produção de Cecil B. DeMille – vencedor de um Oscar Honorário na década de 1950. ‘Os Dez Mandamentos’ (1956) apresenta em suas quase quatro horas de duração um compilado de mais de setenta personagens – com fala – e um show de efeitos visuais – tecnicamente datados para os dias de hoje, mas, ainda assim, esteticamente aceitáveis. Fuga do Egito, abertura do Mar Vermelho, chegada à Terra Prometida… Tem de tudo nesse filme.
2. ‘O Filho de Deus’ (2014)
Depois do sucesso da minissérie ‘A Bíblia’ em 2013, o produtor executivo Mark Burnett decidiu levar a história de Jesus Cristo aos cinemas. Mesmo sendo um compilado de cenas do seriado, o longa apresenta uma fotografia espetacular. Ambientações e locações são colocadas em cores quentes que casam lindamente com o figurino. Quer assistir a um show de direção de arte? Dê uma chance para o diretor Christopher Spencer.
3. ‘Sansão e Dalila’ (1949)
Também dirigido por Cecil B. DeMille, o diretor de ‘O Maior Espetáculo da Terra’ (1952) escolheu o livro dos Juízes como base do seu roteiro. Sem alterar os alicerces da história de Sansão e Dalila, o filme é uma das melhores adaptações – levando em consideração os recursos técnicos de filmagem e mixagem de som da época. Foi o último trabalho de Frank Mayo, um monstro de atuação durante o cinema mudo.
4. ‘O Príncipe do Egito’ (1998)
Nada de Disney, Ghibli ou Pixar. A melhor animação bíblica da história foi produzida e distribuída pela DreamWorks. ‘O Príncipe do Egito’ (1998) narrou o livro Êxodo e recebeu duas indicações ao Oscar. Com uma trilha sonora composta pelo premiado Hans Zimmer, a escolha de atores conhecidos – como Danny Glover, Michelle Pfeiffer, Sandra Bullock e Val Kilmer – para a dublagem foi fundamental para o sucesso do longa. Só não precisava trocar alguns personagens do enredo original.
5. ‘Davi e Golias’ (1960)
Fugindo das produções norte-americanas, o filme italiano ‘Davi e Golias’ teve cenas gravadas na própria Jerusalém – o que potencializa a fotografia do longa. Mesmo com um duração curta, se comparado aos quatro filmes listados anteriormente, a direção de Ferdinando Baldi em planos gerais e a coreografia das lutas chamam atenção. Sem contar, a interpretação do consagrado ator/diretor Orson Welles como Rei Saul. Um clássico do cinema internacional.